23.12.11

“Existiremos!”, prosseguiu ela, na voz do mais magnífico dos sentimentos.

Final de ano: Natal, Ano-Novo | Cavalos calados, abraços partidos | Amor impossível e desperdiçado | Comida, bebida e sonhos vazios | Vicissitude do ser desumano | Família, presentes, et coetera e tal | Encenação de noites descontentes | E o ciclo se fecha feito um ataúde.

25.11.11

Não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

[Quadras ao gosto popular.]

Eu caminhava pelas tardes
Não adiantava me esconder:
Com a memória em meu ser
Fossem mil sóis, tu inda ardes.

E então voltava meu olhar
E disfarçava o meu pranto
Havia sempre um entretanto
– Eu preferia me calar.

E quantas noites eu sonhei
Que retornava pros teus braços
Porém atada a outros laços
Eras rainha de outro rei.

Hoje, calado, reconheço
Chegando ao idos de dezembro:
Tu não estás onde me lembro
Mas nas canções em que te esqueço.


***

Vens de vidas que não vivi
E diz coisas que não sei
Traz de volta o que sonhei
O sorriso que tive e perdi.

Vens andando sobre o mar
Afastando as quimeras
És a verdade de outras eras
Que nunca pude imaginar.

Faz o meu sonho acontecer
Pois nos teus olhos pacientes
Vejo plantadas as sementes
De um amor por florescer.

És a musa de um novo fado
Que apaga o amargo da vida
Traz a cura da minha ferida
E anda sempre ao meu lado.

21.11.11

I settled for the odious to see my dark and hateful eternity.

Perde o teu sono, chora feito cão sem dono, mas não mostra fraqueza, não baixa a cabeça, não pede perdão. Vomita, vomita até as tripas, faz delas coração, mas não perde teu chão, não esquece o passado, quando foste humilhado. Não te sintas culpado, esconde a tristeza, inventa um sorriso, faz o que for preciso, joga fora as certezas. Vê o sol lá fora, espera a tempestade, seja o anônimo do mundo, parte de uma existência, arte dos pesadelos. Vai abrir Sete Selos da Divina Inclemência, pisotear a verdade do infinito que é agora. Traz nas costas o incômodo profundo das mágoas que já te pisaram, de toda a cidade vazia e vadia que se ergue sobre os restos de ti. Procura razão nas tuas desmemórias, inglórias respostas, onde enfim padece a solene demora do soturno fim.

16.11.11

Ela sabe o que costumo e o que não costumo.

Agora mesmo eu vou ali me esquecer
Eu fico triste e não devia me importar
Pois é um assunto que nem diz nada pra mim
E quem será o derradeiro a dizer sim?
Pois essa casa nunca foi mesmo um lar
– E vai a noite mergulhar no amanhecer.

Fico acordado repensando desesperos
Pois no silêncio cada lágrima desaba
Discretamente bem no fundo da retina
Na escuridão toda a esperança acaba
Já na primeira insegurança repentina
– Fosse a morte arrancando os meus cabelos.

E cada hora é um açoite desumano
Dos ventos tétricos o mais temido arcano
Reviravolta do infinito imperfeito
A epifania do ansiado e contrafeito
Desaba sobre todo ódio esquecido
– Já amanhece sem nem ter anoitecido.

Eis-me no fim e eu ainda sei quem sou
No recomeço de um dia acinzentado
A existência com o peso do Universo
Todo moral jaz insepulto e perverso
Vejo em teus olhos a imagem do passado
– O puro inferno que a verdade libertou.

24.10.11

Porque não há ninguém tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.

[12h06min] Um texto escrito assim, sem fim, sem começo, sem porquê, sem o quê? Ah, não entendi, é que estou aqui, o espaço estava vazio e resolvi ocupá-lo. Matá-lo, é o fim da arte-de-martedeusdaguerra-da-morte-de-toda-a-sorte. Sou sem-teto das letras, retirante, proscrito de toda a vida, inserida no descontexto do sem-fim, do que nunca houve em mim, do rastro deixado pelos erros e desterros. É o fim engolindo o início sem mastigar. E me faltar o mar, me fartar de amar. [12h10min]

11.10.11

Um rosto vadio me dá o vazio de já tê-lo visto.

Tarde da noite | Sozinho, cansado | Após o trabalho | Açoite, maçada | Voltando do bar. || A mente flutua | No corpo dormente | E um pouco da vida | No copo | – Ausente. || A luz amarela | Mortiça | Distante | Me leva adiante | Revela o passado || Um tanto enjoado, calado, partido | Num copo trincado | Em cacos, a vida || Feridas as mãos | Amargo nos lábios | As portas se fecham | A rua é meu lar.

5.10.11

I tear asunder Heaven as I would all enemies.

Num falso alexandrino escrevo um testamento
[Fogueira das vaidades da minha vaidade]
Na sutil ilusão que eu ‘inda alimento
De que os céus e infernos ouçam a verdade.

Na torrente de toda a tua enorme cidade
Lá, no local exato do sepultamento
Saberei que terá chegado o meu momento
– E pensar que perdi a minha mocidade.

Lembro que a falsidade foi u’a companheira
E o hoje é um abismo que me tem à beira
– Novidade é disfarce da repetição.

Pois no teu rosto morto me resta a vitória
De saber que a tua última memória
Foi um sutil pavor sem qualquer redenção.

29.9.11

Let's go to the overground: get your head out of the mud baby; put flowers in the mud baby – overground.

Na clara noite e na escura manhã
Nos teus escarros de espesso mel
E nos meus beijos de acre romã
Eu sou culpado, inocente e réu
Por desvelar o mais espesso véu
Morder o fruto que não é maçã
Lançar blasfêmias ao Sétimo Céu
– Contra os deuses, a luta mais vã.

Porém insisto na profanação
Que faz pulsar meu negro coração
E na loucura de amargo sabor
[Corpo encharcado com esse pavor]
[Ossos trincados no puro estertor]
Enquanto a vida desaba sem cor
E o amor repousa num caixão
– Que o Demônio ouça esta oração.

16.9.11

And I hope you let me share your place.

Acumulando erros e medos no beijo e no pranto em silêncio da alma em pavor feito e desfeito vadio inseguro num canto em silêncio imundo e escuro no fundo de qualquer boteco nas chagas abertas nas ruas desertas até onde nem sei como entender descrever eu sigo e me persigo sigo torto e absorto despencando em desgraça esmagado insepulto encharcado de mágoas na escuridão e até falta adjetivo pra essa coisa da vida pra este tipo de texto e até falta objetivo pra quem sempre só trabalha resiste e ainda insiste no fio da navalha dos próprios desterros e conceitos que já não têm mais conserto como se ter ido fosse necessário para voltar e cada miserável derrota ou afronta no coração partido a vagar como quem jamais se encontra fosse uma perversa espécie de recomeçar.

30.8.11

Tudo é um tremendo esforço de ser.

Mais um texto que quase ninguém lê;
São só palavras que todos disseram,
De uma vida que todos já vivem,
Que se confunde em tantas memórias
De uma cor assim, inexistente.

Clichê dizer que ninguém vai te ler;
Porém o que não é batido na vida?
A própria vida bate e nos leva,
Feito uma folha no vento de outono,
Empoeirando os acontecimentos.

Vive-se há tanto tempo, todo mundo,
O tempo todo, e o mundo inteiro,
Que é difícil ser original;
É mais difícil aceitar o Mal
Quando ele surge dentro de você.

2.8.11

I en värld där ingen ny mark kan brytas.

Talvez eu até conquiste o mundo hoje
Sim, este mundo que me pertence
Desde o início dos tempos
E que me foi roubado
Sim, ele é só meu
De mais ninguém
E eu quero
Pra mim
Sim
Eu
Serei
Soberano
Deste universo
Será meu de volta
Que ninguém tente me impedir
Ou talvez só pegue algum livro
E vá me deitar um pouco mais cedo.

25.7.11

Esperavam nauseadas de poeira, de calor e de angústia.

"This is the dawn of the apocalypse | Open your heart to the apocalypse | I want to watch you burn in the apocalypse | I'll make you learn for the apocalypse."

Era o mesmo logradouro pálido de fantasmas vazios, porém tudo parecia mais cinzento. Era tarde da noite, estávamos frios e mais velhos. E nada aconteceu. Nada aconteceu. As mesmas árvores refletidas pela luz no imenso chão. Concreto frio, rachado e seco, suspenso no temor de pensamentos lívidos. Amanheceu e já não havia mais ninguém. Nem sentido, nem razão, nem mesmo um fim. Partem sonhos e desejos no mistério da última estrela. No meio de tanta sujeira, de tanto ruído, de tanta existência, as horas caem, feito anjos, feito lágrimas, feito o véu sobre o cadáver. Feito o sol engolido pela noite mais escura. E enquanto moscas formam halos na tua fronte, a cidade, ruidosa, solitária, se avoluma sobre mim. E o mundo inteiro é um silêncio – ensurdecedor.

8.7.11

If emotions still burn...

[15h22min]

É bem mais fácil apontar o dedo
“Não invadi nada, a culpa é sua!”
O comodismo é descobrir o medo
O que encobre a sombra na rua.

A falsidade é acordar bem cedo
Só pr’a ver uma verdade bem crua
Fazer do erro o seu principal credo
Fazer de conta que não está nua.

Que pretensão se achar especial
Pois continue a fingir assim
Você só vai se afastar de mim.

O que é bom também pode ser mau
Decepção que você finge ter
E que à vera vai acontecer.

[15h34min]

30.6.11

You must admit, the sun is dying.

#2009

Todo mundo um dia
Já pensou em apagar a luz
Já pensou em largar a cruz
Da cotidiana agonia

Quem nunca sentiu
Vontade de fechar a porta
De apagar a linha torta
Quem disse que não, mentiu

Já amanheceu
E nenhuma vontade
Aquele cansaço
De ter tanto espaço
E só ter saudade
Do que nunca aconteceu

Eis um belo dia
Para me esquecer
E eu já sabia
Que isso ia acontecer

Um dia sem fim
Minha vida sem mim
Um dia sem mim
Mais este dia e fim.

6.6.11

Bitter ist's dem tod zu dienen.

[17h05min]

Ninguém confia
Só desafia
Afia a faca da traição
O sim que significa não
Mas eu faço minha trilha
Todo Eu é minha ilha
Telefonemas
Mentiras, problemas
De nada adianta
Meu cadáver se levanta
Contra a torcida
Contra as expectativas
Memória doída
História rediviva
De mim mesmo, a esmo até o fim
Sim.

[17h06min]

24.5.11

E a cada minuto que passa tem muita gente chegando, tem muita gente pagando pra ver.

[06h02min]

"É o mar que sai dos olhos pra banhar a solidão." (Wando)

Será um dia longo e cheio de trabalho
Um dia cheio de batalhas
Mas hei de encontrar um atalho
Ou algo qualquer que o valha
Pra que tudo acabe bem.

Será um dia bem longo e frio
Mais um dia sem noite, entre mil
Cheio de tristeza, rancor e vazio
Um dia dolorosamente azul-anil
Mas tudo vai acabar bem.

E até que a noite desabe sobre mim
No silêncio que me serve de manto
Até que a longa vida breve chegue ao fim
No sorriso que esconde meu pranto
Eu vou tentando ficar bem

Levanto então sem ter dormido
Um dia daqueles que, com sorte
Após todo o trabalho findo
Vai acabar em amor e morte
E tudo vai acabar bem.

[06h09min]

4.4.11

No life's so short it can't turn around.

Voltei por essas idas de tanto fim sem nenhum começo, afastando o desejo do que não conheço, estandarte de trapos imundos de vômito erguido em reverência a tudo que é bestial de tão humano, estúpido de tão sincero, cruel de tanta insegurança. E que venha toda a má-aventurança. Veja quantos astros infernais nos observam: a punição é o desinteresse, a indiscrição, as sombras no escuro, simplesmente o vazio. O esquecimento, o que mais dói. E o que ainda causa sofrimento? De cima abaixo, acertam e erram, não importa o que façam – eles nos julgam, nos usam, nos inundam. Quanto drama, quanto choro, quanta suplica! E este texto mastigado de outras imemórias. O resto, que é tudo, nem está na história. Ninguém mais cantou vitória. Não entendo. É o que vejo. Revivendo. Sem mais desejo. Só uma coisa assim amorfa, indefinida, suicida. Deve ser o que chamam de vida.

17.3.11

Muito longe de mim na escuridão ativa da noite que caiu.

Passado transpassado a sujo em pesadelos, pisado feito sangue nas chagas, esparso nos olhos. Medo nas unhas roídas dos dedos, nos cabelos pálidos, arrancados, caídos no chão. Destino de mão em mão, nas cartas em mangas arregaçadas, desgraças previstas em fotos de revistas, entrevistas nos jornais, nas culpas e desculpas que adormecem, mas não morrem. Em folhas de papel nas árvores de sonho triste, resiste o enfadonho resquício sombrio da condenação sem réu, da dor sem dó. São escolhas, desafetos, dialetos que ninguém conhece, porém, quando amanhece, restam os restos, corre-se pelos corredores, e não existe lugar algum. Toda a existência limita o sonho e imita o despertar sem fim de uma noitada ruim.

9.3.11

The line it is drawn, the curse it is cast, the slow one now will later be fast.

Pegou aquele Dia de Finados, meio cinzento, silencioso e, sobretudo, solitário – havia mais morte dentro de si do que em todos os cemitérios juntos, para uma insólita aventura: visitar alguns velórios de pessoas desconhecidas. Infiltrar-se como se fosse um conhecido só do morto, um parente distante daqueles que só aparecem em tais ocasiões, e procurar, na listagem à Administração, um nome que lhe fosse simpático. Daí era só se aproximar, com suas roupas casuais, discretas, sua fala monocórdia e seus gestos educados. Adentrava, olhava bem o defunto, tentava alguma empatia com aquela coisa rígida e amarelada, coberta de flores e impávida. Depois consolava a família mais próxima sob a luz das velas e o perfume dos crisântemos. Saía entre as coroas de “saudades eternas” e, após ouvir conversas nas diversas rodas de amigos e familiares que pareciam mais distantes, descobria coisas o suficiente sobre o morto para engatar algumas conversas. O resto era conseqüência, só deixar rolar. Ninguém ali estava em condições de questionar nada, nem ninguém. Quando enjoava, saía em silêncio e ia a outra sala, depois a outro cemitério. Enterros não lhe interessavam, a coisa era mais desbragada, menos solene, os gritos de desespero, o descaso dos coveiros, nada sutil. Queria a sintonia fina do interstício entre a morte e a morte além da morte. E, sobretudo, achava interessante alguém morrer justo no Dia dos Mortos, um clichê que, por sua ironia, não deixava de ser amargamente engraçado.

28.2.11

Perderia tudo para não guardar silêncio.

Ela é uma pessoa vazia. Gosta um tanto de ver filmes, mas não lê livro nenhum. Às vezes fuma, às vezes bebe, às vezes dá para alguém. Diz que ama e se apaixona, que acredita em Deus e nas amigas feias. Sua mãe é crente daqueles pastores de televisão, seu pai morreu há vinte anos na porta do bar. Dez por cento para o pastor, dez tiros no peito embriagado. Seu avô já tentou abusar dela, mas ela desgosta mesmo é do padrasto. E sempre perdoa o primo bêbado que passa as mãos em suas pernas. Ela mora longe, ela não é ninguém. Ela vive sozinha, ela não é ninguém. Usa perfumes discretos, tem vergonha do corpo e não sabe trepar direito. Fala muito, chora muito, e tudo é irritante. Entregou-se ao primeiro que apareceu a fim de esquecer uma paixão amarga. Falam dela pelas costas, riem quando ela se aproxima. Ela corta os próprios pulsos, mas tem medo de morrer. Toma antidepressivos, benzodiazepínicos, mas não sai do emprego ruim. Foi traída pelo noivo, humilhada, insultada. Na verdade mereceu, ela pensa, pois falhou. Não se dedicou direito, interferiram, atrapalharam, e ela apenas se omitiu. Porque ela não tinha tesão, porque sempre dizia não, pois era tão-só desânimo, engano, fraqueza e fraca gentileza. Romantismo barato, tolo e ingrato, oco e ingrato. Parasita agarrada, triste, desesperada, iludida e ridícula, vivendo o que há de mais grotesco. Ouve músicas antigas, veste roupas velhas e puídas. Lábios tímidos e contraídos, a voz de quem pede desculpas. Ela tem a pele rude, ela tem o rosto acre. Suas mãos estão cansadas, ela nunca sai de casa. Ela tem os olhos tristes. Ela não é ninguém. Ela tem caráter sujo. Ela não é ninguém. Não pertence a lugar algum, vai morrer num canto qualquer. Vazia, fria, à revelia de tudo.

15.2.11

Afora isso ia indo, atravessando, seguindo, nem chorando, nem sorrindo.

Tudo está escrito, em páginas viradas
Em tardes suadas, tão ensolaradas
De moscas e moças pr’a lá e pr’a cá

É todo um infinito de gente alheia
Gente sem sangue correndo na veia
Perdida em volta de tudo que não há

Ando a mil milhas d’onde não vim
Vejo que não há início nem fim
Não existe a trilha, só o caminhar

Em ruas solitárias do meu cansaço
Nuvens de chuva banham o espaço
Estrelas brilham no fundo do mar.

30.1.11

If you begin to fall, please have some more. You could stay at my place if you want: I'll sleep on the floor (for long and faithful service).

[ Ao som de Alcest, "Sur l'Océan Couleur De Fer". ]

Há tanto tempo escrevo as mesmas coisas divididas em vidas já vividas que nem sei por que ainda perco meu tempo, na verdade roubado de você, a esmo no pranto não derramado, entardecer molhado de suor, de ócio, ódio e ópio, paz infernal, de cemitério, de campos de flores pisadas, de mágoas já ultrapassadas, porém jamais esquecidas.

Vivemos no fundo de um oceano de ar
Ver-de-amar
E só de te olhar eu já sei
Que no fundo da lagoa onde te enterrei
Reverso do final do mundo
Ao menos despedir-me-ei
De tudo que nunca representou
Nada além do que já sou.

[ “Imbue me now, let the spirit take form, so that I can receive thy punishment with dignity, with dignity. Make use of me! Make use of this flame, so that I can receive thy ineffable splendor with dignity, with dignity!” ]

5.1.11

A thousand people come and go and stay and fade away.

Passou o tempo de chorar
- E eu sorri

Nem lembro quem é você
- Te esqueci

E enquanto todos lamentam
- Eu vivi.