21.3.14

O que és não vem à flor das frases e dos dias.

Vai à janela e olha:
As rosas não são mais rosa,
Pereceu todo o jardim;
Se perderam os perfumes
Nas cinzas de um dia cinza.
E você, frio e ranzinza,
Submerso em queixumes,
Deixou que até o jasmim,
Murcho, servisse de glosa
À sua rude escolha.

Sobre o poente baço,
De sol frio a fenecer,
Um gosto de nunca mais
No chão recendendo à morte.
Mas olha, apesar de tudo,
Você, cego, surdo e mudo,
Até que tem muita sorte,
Talvez sorte até demais,
E até pode aprender
Com esse novo fracasso.

Sem cinismo ou ironia:
Você pelo menos pode
Ou cuidar menos de si,
Ou mais do que o rodeia,
Não deixando que as flores
Morram por teus pormenores
Que desaguam à mancheia;
Pois qual flor morta ali
Será adorno da ode
À sua própria agonia?

11.3.14

Eu desejo que o Sol caia no mar do seu peito.

No cenho corre o suor,
Simbolizando a ansiedade,
Aquela angústia, na verdade,
De quem espera o pior.

Pois navegando os oceanos
De tanto asfalto e concreto
Inevitável, quase certo,
Era ceder aos desenganos.

Adiantou se esconder,
Se desculpar por cometer
Os mesmos erros, amiúde,
E tropeçar na finitude?

Claro que não; mortalidade
É o extrato, na verdade.
Impermanência: fim da festa
Das vaidades – nada resta.

Pois não importa o seu desejo
E não importa a sua fé
Você será o que já é:
Desventurado e malfazejo.

Vai pelos campos infernais
Nas tardes quentes de verão
Colher jasmins do nunca mais
E sepultar o coração.