24.6.18

Wenn Sie meine Hand auslasse, ist es, als wären wir tausend Meilen voneinander entfernt.


Uma tarde de junho,
Feito um lance de dados:
Amizade em punho,
Dez anos, a vida;
Um instante, calados,
Como se fosse acaso,
Dado o tamanho atraso
- Mas existe saída?

Foram passando as horas
Por uma tão sutil fresta
E olha!, já anoitecia;
Restava a profecia,
Feito sarças de fogo,
Pra deixar tudo em jogo,
Aparar cada aresta
E desfazer a demora.

Então um beijo, um abraço
O existir, num abismo,
E não havia espaço
Para mim sem você;
E num tremor feito sismo,
O tempo se partiu,
Tão vagaroso, baldio

-
E eu vivi em você.

8.6.18

You talk to me as if from a distance and I reply with impressions chosen from another time.


De um deserto para o outro,
Que sempre está a me alcançar,
Eu vou correndo, vou fugindo,
Até, enfim, eu perceber,
Que o deserto ainda está lá;
Que o deserto de você
É o deserto que há em mim.

Queima de sol, queima de frio;
O céu e o chão são minha dor,
De tudo e nada, imensidão,
Inescapável, é o que há
De turvas vistas, repetição
– E o deserto, o grande horror.

De tanto pó e tanto sol,
Imensa areia a rodear,
Que me seguia aonde eu fosse,
Ao final do dia, eu vi,
Tão absorto e sem ar,
Que o deserto era eu.