24.10.11

Porque não há ninguém tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.

[12h06min] Um texto escrito assim, sem fim, sem começo, sem porquê, sem o quê? Ah, não entendi, é que estou aqui, o espaço estava vazio e resolvi ocupá-lo. Matá-lo, é o fim da arte-de-martedeusdaguerra-da-morte-de-toda-a-sorte. Sou sem-teto das letras, retirante, proscrito de toda a vida, inserida no descontexto do sem-fim, do que nunca houve em mim, do rastro deixado pelos erros e desterros. É o fim engolindo o início sem mastigar. E me faltar o mar, me fartar de amar. [12h10min]

11.10.11

Um rosto vadio me dá o vazio de já tê-lo visto.

Tarde da noite | Sozinho, cansado | Após o trabalho | Açoite, maçada | Voltando do bar. || A mente flutua | No corpo dormente | E um pouco da vida | No copo | – Ausente. || A luz amarela | Mortiça | Distante | Me leva adiante | Revela o passado || Um tanto enjoado, calado, partido | Num copo trincado | Em cacos, a vida || Feridas as mãos | Amargo nos lábios | As portas se fecham | A rua é meu lar.

5.10.11

I tear asunder Heaven as I would all enemies.

Num falso alexandrino escrevo um testamento
[Fogueira das vaidades da minha vaidade]
Na sutil ilusão que eu ‘inda alimento
De que os céus e infernos ouçam a verdade.

Na torrente de toda a tua enorme cidade
Lá, no local exato do sepultamento
Saberei que terá chegado o meu momento
– E pensar que perdi a minha mocidade.

Lembro que a falsidade foi u’a companheira
E o hoje é um abismo que me tem à beira
– Novidade é disfarce da repetição.

Pois no teu rosto morto me resta a vitória
De saber que a tua última memória
Foi um sutil pavor sem qualquer redenção.