21.1.19

Ahoga nuestras almas, exentas de deseos, en un mar de silencio, de quietud y de olvido.


Garoa fria sobre a tarde baça:
O tempo vai fazendo sua curva
Inexorável, em silêncio, austera,
Sobre a existência, vã, na descendente,
Num grande afã de mágoa e esquecimento.

Mas, de repente, a brisa morna, lassa,
Sopra no Lete, rio de água turva,
E uma angústia, de eterna espera,
Já se derrama, em turgidez, tão paciente
Sobre o Universo, merecido tormento.

Realidade: escolha a sua, rápido,
Antes que perca a tua chance, e então
O teu caminho, já nas mãos do fado,
Vá desmanchar numa esquina rude
Do estreito paço de horror, loucura.

Pois, quando bate a maré obscura, 
Deságua na tua alma, açude,
Uma agonia no ser, já calado,
Feito um amargo e reticente ‘não’
E o horizonte se entristece, pálido.

7.1.19

Mas puseram-te numa praia de onde os barcos saíam para perderem-se.


Ciprestes ao vento:
Por vielas de pedra,
Entre anjos trincados,
Cruzeiros cinzentos
E céu empoeirado,
Te imagino deitada
Leve, carregada,
No cortejo, em silêncio
Que só é quebrado
Por pranto e soluço,
Engasgado ou rasgado,
Talvez pelos ruídos
Vindos da avenida
Pelos muros baixos
Da tua morada
Agora definitiva;
Quase vejo o chão
Do simplório jazigo
Onde repousarás
Para a despedida,
Descanso que não vi,
Onde tu já não hás;
Com orvalho nas flores
Que ora te ornam,                   
Poeiras nos lábios,
Pra sempre calados,
E estrelas mortas
Nos olhos vazios.