25.11.11

Não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

[Quadras ao gosto popular.]

Eu caminhava pelas tardes
Não adiantava me esconder:
Com a memória em meu ser
Fossem mil sóis, tu inda ardes.

E então voltava meu olhar
E disfarçava o meu pranto
Havia sempre um entretanto
– Eu preferia me calar.

E quantas noites eu sonhei
Que retornava pros teus braços
Porém atada a outros laços
Eras rainha de outro rei.

Hoje, calado, reconheço
Chegando ao idos de dezembro:
Tu não estás onde me lembro
Mas nas canções em que te esqueço.


***

Vens de vidas que não vivi
E diz coisas que não sei
Traz de volta o que sonhei
O sorriso que tive e perdi.

Vens andando sobre o mar
Afastando as quimeras
És a verdade de outras eras
Que nunca pude imaginar.

Faz o meu sonho acontecer
Pois nos teus olhos pacientes
Vejo plantadas as sementes
De um amor por florescer.

És a musa de um novo fado
Que apaga o amargo da vida
Traz a cura da minha ferida
E anda sempre ao meu lado.

21.11.11

I settled for the odious to see my dark and hateful eternity.

Perde o teu sono, chora feito cão sem dono, mas não mostra fraqueza, não baixa a cabeça, não pede perdão. Vomita, vomita até as tripas, faz delas coração, mas não perde teu chão, não esquece o passado, quando foste humilhado. Não te sintas culpado, esconde a tristeza, inventa um sorriso, faz o que for preciso, joga fora as certezas. Vê o sol lá fora, espera a tempestade, seja o anônimo do mundo, parte de uma existência, arte dos pesadelos. Vai abrir Sete Selos da Divina Inclemência, pisotear a verdade do infinito que é agora. Traz nas costas o incômodo profundo das mágoas que já te pisaram, de toda a cidade vazia e vadia que se ergue sobre os restos de ti. Procura razão nas tuas desmemórias, inglórias respostas, onde enfim padece a solene demora do soturno fim.

16.11.11

Ela sabe o que costumo e o que não costumo.

Agora mesmo eu vou ali me esquecer
Eu fico triste e não devia me importar
Pois é um assunto que nem diz nada pra mim
E quem será o derradeiro a dizer sim?
Pois essa casa nunca foi mesmo um lar
– E vai a noite mergulhar no amanhecer.

Fico acordado repensando desesperos
Pois no silêncio cada lágrima desaba
Discretamente bem no fundo da retina
Na escuridão toda a esperança acaba
Já na primeira insegurança repentina
– Fosse a morte arrancando os meus cabelos.

E cada hora é um açoite desumano
Dos ventos tétricos o mais temido arcano
Reviravolta do infinito imperfeito
A epifania do ansiado e contrafeito
Desaba sobre todo ódio esquecido
– Já amanhece sem nem ter anoitecido.

Eis-me no fim e eu ainda sei quem sou
No recomeço de um dia acinzentado
A existência com o peso do Universo
Todo moral jaz insepulto e perverso
Vejo em teus olhos a imagem do passado
– O puro inferno que a verdade libertou.