27.10.15

Je saisis en sombrant que la seule verité de l’homme, enfin entrevue, est d’être une supplication sans résponse.


Hoje eu vou deixar o dia começar antes da vida.

Enquanto o sol mortiço
Tinge a pálida alvorada,
Deixo a alma repousada;
Em pátios desolados,
Ruínas devastadas,
N’outrora verdes prados,
Hoje petrificados,
Em cárcere, ausência,
Em letra e língua morta,
Em sombra, em corpo
– Em silêncio.

No silêncio estridente
Dos pássaros de palha;
Como quem desiste sempre,
Sem deixar de existir nunca;
Na confusa convulsão
Do velho barco contra o cais
Entristecido e vazio;
Na palidez do abandono
Taciturno, inclemente;
Na tempestade
– Inútil liberdade.

Um minuto a mais de ódio:
Rancor, tédio, cansaço;
Enquanto a Morte olha de longe,
Tediosa, lenta e baça,
Com sutil desinteresse,
Algumas vezes me parece
Que ainda resta muita vida,
Muita noite, muito dia,
Para o tão pouco que é viver;
E nada nunca se esvazia
– No Vazio.

Errar toda uma vida:
Desrazão não redimida
Nem na quietude do Não-Ser;
No interstício entre dois mundos,
Sigo em silêncio, contrafeito,
A desejar que o dia, o ano,
A vida acabe de acabar,
Esperando nem sei o quê;
Um dia que não sei qual é,
Rezando a um deus
– Que não há.

Pois finda a vida e amanhã é outro dia.