26.8.19

Que é das mãos esperando o amanhecer definitivo e caídas também na torrente do tempo?


É terça, quarta, quinta-feira?,
Nada difere nos caminhos
Do velho fado, inexorável,
E que nos deixa sempre à beira
Dos pensamentos mais mesquinhos
– Enquanto segue o inenarrável.

Ao pé desse cruzeiro torto,
De flores murchas nas coroas,
Repousa outro parente morto;
Sob silêncio em vez de loas,
E na mortiça palidez,
Somam-se todos, outra vez.

Veio parente, veio amigo,
Pra ver o último abrigo,
Do que restou daquele moço:
Cada parente triste, grosso,
Que apanhou o ataúde
Para o repouso escuro e rude.

Não houve rezas, cantochão:
Só burburinho dos presentes,
A lamentar tanta má sorte,
Nem pranto sobre o caixão;
E eu pensando, entrementes,
– O quão demora qualquer morte.

E vão descendo a ribanceira
Entre os pequenos monumentos
De cada amor, há muito, findo;
As sepulturas quase à beira
De barracões, assentamentos,
E as indústrias, poluindo.

Há girassóis?, mal nasce grama!,
Só cão, passante, funcionário;
E as moléculas de lama
Seguem o mesmo itinerário,
Inúteis sinos da agonia,
– Retratos desta elegia.

O ataúde é soterrado,
E cada qual para seu lado:
O descansar do corpo puro,
Que servirá, então, de muro,
Entre este lado e o de lá
– Ante um deus que já não há.

Já chega a hora da partida:
Entre garoa, frio e vento,
E a tarde longe de se por,
Vai cada qual com sua vida;
Imóvel mesmo, só o tempo
– Ignorando qualquer dor.