4.12.20

En duva satt på en gren och funderade på tillvaron.

Eis que o mundo deu a volta
Toda ao redor da estrela morta;
Inevitável reencontro:
Porém, eu nunca estou pronto
Pra relembrar, tal como faço
A cada instante, em cada espaço
Da dor que encharca, alta maré
Tudo o que foi e o que ‘inda é.

Eu corro sempre atrás do tempo
E ele corre contra mim;
Mal sobra tempo pra sentir
Falta do tempo que não tenho.
Pra você não existe tempo
E, entre nós, tempo sem fim;
Respiro fundo, é o devir:
A finitude e seu desenho.

Vou tropeçando nas memórias,
Cambaleante e obtuso;
Com os meus erros eu aprendo
Que fracassar é sempre péssimo,
Que permaneço no acréscimo
De um existir sempre horrendo;
Vejo que estou em outro fuso
E que esperanças são simplórias.

Jamais é bom envelhecer
E a dor não pode me mostrar
Nada – então sigo calado
A tentativa inútil, vã
De impedir o amanhã
Pois é o mesmo nosso fado,
Inexorável feito o mar
E inequívoco do Ser.

Pois tudo cabe no intervalo
Entre o abismo e o chão:
Você repousa, eu tropeço
Nos próprios passos, já sem brio;
Penso em você, ‘inda me calo
Luto?, você diria ‘não’
Chorar seria um excesso
E novamente silencio.

Em temporais de fim de tarde,
No peito, a ausência ‘inda arde;
Às vezes, sonho que te chamo
Em aves, flores, no oceano.
Mais de trezentas despedidas:
Já em migalhas fenecidas,
Teu corpo é leve na terra,
E meu pesar jamais se encerra.

26.11.20

If his home was on fire, what one thing would he save? The fire, he said, only the fire.

Mais uma vez, tudo às avessas:
No Sol, teu mar então mergulha
– Estrela esta que está morta,
Nós precisamos aceitar;
E, após um fútil reclamar,
Você, então, agora exorta
A palidez de uma fagulha
Em nuvens cinza e espessas.

Olho ao redor, dentro de mim:
O que restou, aqui, enfim?,
Um oceano ressecado;
E já nem sei mais de que lado
Ficava o canto da baía,
De tão sutil melancolia,
Em que batiam os meus sonhos
– E hoje? só vazios medonhos.

Quem ainda se presta
A vadear tal malquerer?
Há muito se foram os deuses,
Tal qual a minha inspiração;
Fico esquecido numa fresta
Que esqueceram de varrer
Com o Destino e seus reveses
Trocando o ‘talvez’ pelo ‘não’.

Não há desejo, não há medo
– Puro silêncio – estou vazio
Cansaço do que não vivi;
Até sonhei que desistia,
Mas surge outro velho dia
E eu ainda estou aqui,
Num grandessíssemo estio:
Quis me entregar – ‘inda é cedo.

25.4.20

Also heißt des Willens Zähneknirschen und einsamste Trübsal.


Dias incertos feito bruma,
E este é um dos mais tristes,
Se destacando dos demais:
Os teus setenta e quatro anos,
Hoje apenas hipotéticos;
Pois, entre outros esqueléticos,
Envolto em trajes espartanos,
No tempo todo e no jamais,
És para sempre e não existes
– Infinidade e coisa alguma.

Já nos escapam os motivos,          
E, vez em quando, estou à beira
De coisa alguma pela frente
Da existência angustiante,
Envolta em medo e doença;
Seria bom ter uma crença
De um reencontro adiante:
Mas sei que hoje tens, somente,
Lábios de lodo e poeira
– Em forma e lar definitivos.

Neste cenário, um grande nada,
Todas as vidas em suspenso,
E as angústias tão despertas,
Fez o Destino, num esgar,
Além de toda a infinidade,
E da ridícula saudade,
Um quase-mundo a separar
Nas avenidas, vãs, desertas,
Em que ressoa, em tom imenso
– Somente a tua voz, calada.

A vida é nau sem direção,
O mundo piorou sem ti
E hoje é pouco mais que nada:
Viver é fechar uma porta,
Pois todo luto é solitário
E cabe a mim este calvário,
De carregar esta cruz torta
Sobre esta terra desolada;
Enfim, ainda estou aqui
– Por mera falta de opção.