17.5.15

I wonder why life must be a life that lasts eternally.


Sentes angústia porque as lágrimas
Que tu jamais irás derramar
Não mais preenchem as velhas páginas
Com toda a mágoa e o pesar
De versos lúgubres e incertos
E tudo fica lá, represado,
Na solidão de tantos desertos,
No peito oco e tão cansado,

Já oprimido por tanto peso
Da rude e sólida existência
Que te destrói no cotidiano
Te arrancando quaisquer vontades;
Não tem papel, parede ou pano
Em que escrevas, sem que te enfades
De registrar, com algum desprezo,
O sofrimento e a paciência

De levantar a cada manhã
E, enfrentando a multidão,
Permanecer, ‘inda que malsão,
A lutar sempre a luta vã
Contra a língua morta da vida,
Na qual ninguém jamais se entende,
Em tal silêncio, que se pretende
Amargar feito qualquer bebida,

De travo forte e entorpecente,
De frases rudes, futilidade,
Tão encharcadas de desespero,
Que você pensa, sente ou diz,
Quando a lembrar que não és feliz
E que o final desse entrevero
Te angustia, pois, na verdade,
Morrer?, algo tão inconsistente!...