6.11.15

A loucura da recusa, essa feita de círculos concêntricos e nunca chegando ao centro, a ilusão encarnada ofuscante de encontrar e compreender. A loucura da recusa. De um dizer tudo bem, estamos aqui e isto não basta, recusamo-nos a compreender.


Arde o fim de tarde
Numa cidade qualquer
– Mesmo sem sol.

Tarde, quase noite;
Estrelas em lassidão
Se derramam aos poucos
– No vazio.

Instante perdido
No meio do calendário,
Numa folha rasgada,
Bandeira suja, estandarte
De um país que não sei.

Pórtico partido
Para o mar cinza e frio
De uma cidade morta
Sem barcos nem cais,
Sem gente nem vento,
Onde o tempo não veio.

E naquele mundaréu
De gente, fios e furtos,
De pedra, poeira,
De álcool, de fé,
De névoa, de nada,
De não e ninguém,
A vida se perdeu.

A corda, já aos trapos
[Tessitura do ser,
Do existir, do haver],
Se rompeu, desistiu;
Em farelos, destroços
Sequer fez menção
De não se dissolver.

Do baço crepúsculo
Atrás das ruínas,
Um horizonte esquecido
Trouxe saudade
De não tê-lo visto,
Feito amor que não foi.

Quis viver o intervalo,
Instante anterior
Ao que não foi vivido;
A palavra não dita,
O dia não nascido.

Viver e morrer,
Desaparecer,
Sem se reconhecer
– Em ninguém.

Nos vãos e desvãos do Ser
Se esconder
– Impermanecer.