9.5.13

You must admit, the Sun is dying.


I

Sonolenta madrugada

Amanhece qualquer dia

(Silêncio, impermanência)

Outra noite vai morrer
E com ela quase tudo
Que é insone, que não tem nome

Os homens e os deuses
O adeus de tantas horas
Ser, Tempo, Nada, Verdade
Eu
Ninguém

É que há muito não vejo
As tais manhãs do fim do mundo
(Os dias já sabem nascer sem mim)

Quantas eternidades
Venturas perdidas
Estrelas, nuvens, flores, mar
Pedras, areia, desejo, destino

Quase não lembro do mar infinito
Cinzento
Das estrelas da noite sem fim

Tudo deságua no vazio
Dessas páginas viradas
De um pranto que não cai
Nessa ausência, nessa falta
De barco sem cais
De asa de ave sem céu
De anjo sem deus
De mim

Nessa dor de tantos nomes
A razão de tantos ais
Do silêncio de ninguém mais.


II

Desmanchado
Resta-me o intervalo
Interstício tão breve
E por isso que me calo
Desde o início
Num sorriso
Ou algo que o valha para alguém

Esse por do sol em mim
Essa mágoa do sem-fim
– Tudo é ressentimento

Calado assim, fadado ao fim
Enfim desconstruído, dissoluto
Num minuto já perdido

Momento fugidio
Da vontade de já ter ido embora
E a sensação de ter dito demais

Vivendo a vida de outro alguém
Outrem qualquer
E construir outro destino
(Quem sabe até outra pessoa)
Desconhecer o fim da história
Feito quando a velha vida
Era só mais uma novidade
No meio daquele existir

E eu fico aqui
Poesia desunida
Espalhada, em ruínas
Procurando motivos
Pra esquecer
E marcar no calendário
Coisas que jamais irei fazer

Um dia
Quis as eternidades
Desvelar a quietudes do não-ser
Hoje nem preciso que ninguém me diga
Eu sei
O fim do mundo é logo ali
E só.