24.8.16

Pero, anote, abandonado de verdad, no con esos imperfectos, anhelosos y en definitiva inútiles abandonos que la vida nos proporciona.


A madrugada vem,
Desaba
Sem nenhuma sutileza,
Logo a trazer nos braços 
 – Tristeza –
Outro amanhecer idêntico,
Outro despertar inútil
A quem nem adormeceu
E quem não está aqui.

Calo-me, aflito
Diante do infinito,
Que é o medo de existir;
E o tempo vem, inexorável,
O tempo vai, inatingível,
Em vagas tempestuosas
De um escuro mar sem fim.

Dormir, sonhar? Exatamente,
Não há
Como nem ou por quê
Simplesmente partir, deixar
O corpo, o dia, a vida
– O chão feito de não.

Não há fuga, não há
Como pedir ajuda;
Não há saída, não há
Como deixar a vida
Fora
Do lugar, que na verdade
É lugar nenhum.

Noite tão longa,
Longe, espessa,
Impenetrável;
Atravesso na névoa,
Feito barco rumo ao cais
De tantas infinitudes
Desimportantes, desterradas
– Que não há.

Já desisti de tantos sonhos,
Hoje este é só mais um:
Vícios, vicissitudes,
Tanto faz mais um ou não;
Pois o tempo está passando,
E eu quero ficar pra trás.

2.7.16

E assim fui sendo esse leque de coisas fluidas e inquietas.


A vida é sempre
A mesma: qualquer
Esforço sem porquê
Não sei, não há
Mais nada ou menos
Do que eu esperava ver
E ser e só.

Uma angústia, véspera
De outubros, silêncio
Por mortos que enterro
Nas quartas de cinza
Por glórias caídas
No chão dos milagres
Desfeitos, sem jeito
De ser e só.

Tropeço nos passos
Tão próprios a isso,
De tanto cansaço, ainda
Que finda nas ruas
De pedra, das flores
Eternas
Que são de papel
Em que deixo caírem
Metades, vontades
E uns dois ou três versos
Que são sempre os mesmos
Como igual é a vida
Que é ser e só.

As marés, manhãs
Do fim
Do mundo
Poeira, de águas
Abismo, de azul
De auroras
Parnaso, de anjos
Sem asas
Nem eternidade
E lá no horizonte
Anunciação
Da fé sem mim
Do porquê do fim
Por ser e só.

Não desejo nada
E nada me espera
Só restaram nuvens, e o corpo
Ao chão
Ou não
Ser
E só.

5.6.16

O mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca.


Mais um domingo finda, baço,
Sem vontade, lasso, frio;
De neblina, garoa, ausência,
E uma angústia, um não sei quê.

Encontram-se final e início
No interstício de existir:
Guardar pra si toda essa ânsia 
– A distância até ser mais feliz.

Aperta o passo, chega logo!,
Aonde?, nenhum lugar;
O que te espera além da noite
– Só mais um tanto de cansaço.

A madrugada, com o pesar das horas,
E as folhas do calendário,
Leva às ruínas de quaisquer escolhas
– Itinerário da desolação.

E já se anuncia, até previsível,
Qualquer outra dessas tempestades:
Ansiedades de amor e morte,
Torpor que dá só de se estar vivo.

Carnaval feito de cinzas,
Ou dir-se-ia repetições,
De alegria, tristeza, nada,
Que voltarão com a alvorada.

10.5.16

Ils reviendront, ces Dieux que tu pleures toujours!


[Versos feitos dentro dos 9min29s de Immutable Dusk, do Pelican.]



Cada noite sozinho é um suspiro
De alívio, de fome
De não querer viver.

Cada chance de falsa mudança
É só mais um sobrenome
Da decepção.

Cada angústia que arde no peito

É um sinal dos tempos,
É um entardecer
.

A esperança é uma ponte partida
Tombada pro lado
De lugar nenhum.

São os erros,
As destemperanças,
De quem não se pode
Sequer desprezar.

Cada escolha é uma folha rasgada,
Em branco, amassada
De sim e de não.

Cada lado escolhido é um fado,
É um falso caminho
E um ponto final.

Cada beijo é um pranto escondido,
Para si, nos profundos
Desvãos do viver.


O destino é a vida caindo,
Curvando o espaço,
Tempo que não há.


São as moscas
Revoando em um halo
Sobre o cadáver
De Nosso Senhor.