16.2.18

Calma, calma, também não é tudo assim escuridão e morte.


Tem dias em que olho pro mundo
E penso ‘não está tudo meio incompleto?’
Às vezes, porém, me parece mesmo
Que faz é bom tempo que já acabou.

Caio do alto do azulado infinito,
E meus pedaços, vou deixando por aí:
As mãos, em cada texto que não fiz,
Feito os rastros do que havia – bem e mal;
Quem já não sou, sei lá se fui,
Vai pro fundo do mar esverdeado.

Hoje não sei bem o que escrever:
Nem todo fevereiro tem dias de Carnaval,
E há tantos cristos que fogem da cruz;
Sem mentir qualquer virtude,
Nem trair algum receio, eu sei
- Cada um é a poeira de outro caminho.

Às vezes, é verdade, tenho pressa
Sem nem saber aonde quero, enfim, chegar;
Em outras horas, estou tranquilo, a esperar
Pelas canções, por palavras – você.

2.2.18

E os teus olhos não buscam mais lugares.


É quando já não há mais tempo
Que todos vêm, ao telefone, me avisar:
Deixaste o corpo, a carne, a vida,
E os sombrios insucessos para trás.

Às tantas dificuldades, enfim,
Deste as costas; tanta aposta,
Tanta reza, que deu somente em nada,
Até que, então, resolveste descansar.

Aqui, correm os ponteiros do relógio,
Aí não bate mais a vida em teu peito;
Resta a mágoa do destino, atrás dos olhos,
E a terra, sobre os ossos, derramada.

Cessa o tempo, doloroso, para ti,
Fica a vida, incompleta, para nós;
Já não há mais girassóis para essa luz,
E todas as tuas flores são de adeus.

No lamaçal do enevoado amanhecer,
Os cães ladram e ladeiam pelas lajes,
Ao som do lúgubre e amargo cantochão
Para o madeiro descido ao abismo.

Ao redor, parentes, amigos, conhecidos;
Entristecidos, cada qual no seu canto,
Ora envoltos em pranto, ora apenas contritos,
Ao sabor do impermanente e finito.

Não quis te ver caído, inexistindo
No acre fado sob o sol e o céu;
Guardo lembrança de quando caminhavas
Pela vida que agora te encerra.

Olhos cerrados, no descanso infindável,
E, sob a lápide gelada, o teu nome;
Jazes na relva - escuridão, placidez,
Na distância do silêncio e do nunca.

É tudo que tens agora – a eternidade;
Ficamos aqui com a memória
Envolta em tempo, em poeira, no vazio,
E tu aí, imóvel onde o tempo já não há.