31.12.10

Na verdade, "virtude" é uma palavra tão perigosa que devemos nos apressar em explicar.

[22h29min]

Outros universos imersos nas mesmas palavras
E no entanto te calavas
Atrasada, distaída
A ver passar a vida
Enquanto fingias ser infeliz.

Foi por um triz que não me enterrastes de vez
Mas a minha solene voz
Ergueu-se contra o algoz
Que um dia fora importante
E hoje é uma ausência na estante.

Enfrentei numa noite a minha própria ira
Mentira e verdade
Naquela cidade
Que de tão feia é bela
E hoje segue morta e esquecida.

Atravesso hoje cadáveres insepultos
Nêmese de antigos cultos
Gênese de todos os tumultos
E nesta noite sou riquíssimo de mim.

Do princípio ao fim e do final tudo de novo
Em poucos dias
Em que dirias
Que eu desapareceria sem sorte
Porém descobri que sou imortal até a morte.

[22h40min]

26.12.10

E um pássaro no meu ombro responde: não há vida nem morte.

[16h59min]

Um desafio: escrever uma história feliz.
Seria hipocrisia?
Tudo se perde na memória
Mas ainda vou te encontrar
Também vou te desafiar –
Duvido!
A fingir ser feliz novamente
A seguir em frente
Atrás do Mal de do Bem
Até o final
- Amém.

[17h03min]

E a morte se inclinou, piedosa e enternecida.

Não durmo mais. E nem preciso mais dormir. Não sinto mais dor. Não existe mais angústia. Uma vez que a ansiedade foi lançada na mesa, só restam a redenção e a frustração. Aliás, a dor existe sim, persiste. Mas, certa quanto o sol que morre e renasce todos os dias, a ausência de esperança é o caminho. Sozinho com você, lado, braço, abraço e vós. Luz de mil sóis. O sacrifício foi feito, a fim de que o descaminho me fosse jogado à cara. Mergulho, batismo, decomposição em composição. Este foi só o fim; agora vamos. Aonde? Sol, eu sei.

7.12.10

Destino eu faço, não peço.

Preciso destas palavras ou elas de mim? E quanto à vida? Ah, as pessoas, as coisas, os pensamentos... as verdades e vertigens de tantas sensações que se perdem no mesmo encontro, feito marés de rios infernais que se reviram e se deformam a esmo no mesmo vórtice de pesadelos... isto aqui é mera indiscrição. Tanto faz marcar o tempo, um compromisso, fazer promessas ou medir fracassos. Tudo é sucesso nas paradas do trem que sai dos trilhos de Nada para os confins que Quase-Tudo. E para quem julgou que eu me mantivesse mudo, mais uma vez errou. Aqui estou, onde sempre estarei, de onde jamais saí. A raiz indissociável do meu jardim. Morto, deposto, ressurreto, e até jamais ver. Estou com você, sou mais-do-que-eu. No sol negro, nas flores do mal, no ópio da mais pura verdade.

28.11.10

Let the flames purify my soul on its way to hall up high.

Imensa fogueira sem nenhuma vaidade
Cidade inteira suspensa na manhã do fim
Em frente de mim a iridescente vida
É consumida em instantes pelo fogo
E logo tudo que era mágoa se esvai
Enquanto cai o pano sobre a mentira
Que revira agora somente na treva
Que leva embora o que um dia foi luz.

27.11.10

Todas as grandes ações e todos os grandes pensamentos têm um começo ridículo.

[11h22min]

O sol arde no céu anunciando a nossa tarde
Derramando feito véu seus raios luminosos
Auspiciosos e insensatos em sua paciência
Na iminência de não cumprir nada do rol
Das coisas que eu havia desistido de fazer.

Já me lembrei do que eu precisava esquecer
E já nem sei mais porque eu ainda insistia
Em resistir querendo outra existência
Se eu sei a mesmíssima falta de paciência
Ainda iria sempre e sempre me acompanhar.

Quero retornar ao desencontro infinito
Do antigo mito que criei para mim mesmo
E viver mais a esmo neste imenso oceano
Eternamente puro e vazio que é viver
Ewige wiederkunft do Sísifo feliz.

[11h35min]

26.11.10

Eu trago na vontade todo o futuro traçado!

[16h42min] A cor do entardecer, um jasmim, qualquer flor. Um ato qualquer, uma fuga, essa dor. Um amor, um lugar, mesa posta, jantar. Cama feita, pôr-do-sol, não-te-esqueças-de-mim. Noite sem luar, infinita e sem cor. Olhos profundos de nunca dormir, dia que não quer mais amanhecer. [16h46min]

We'll watch the seas start to die.

[14h18min]

Em teu sereno olhar, a redenção
Que brilha n’alta noite feito a luz dos círios
Qual um lírio nascendo no jardim
No mais profundo do não-sei-de-mim
Em teus pequenos lábios, o veneno
Contra toda a contradição e o martírio
Ao agridoce de uma canção
Que em conselhos, talvez sábios
Trouxe-me até aqui para dizer
Que, de tudo que vivi, tu és a Divindade
Luz que empalidece as noites da cidade
Lírica, única verdade, que sorri
Que não envelhece, estandarte, monumento
No abraço morno de um gesto lento
Num eterno movimento de retorno
Ao seu lugar que é aqui
- Tu és minha constelação.

[14h23min]

17.11.10

¿Will he suffocate their faith?

[19h46min] Feche os olhos, as janelas, o coração: o sol vai entrar mesmo assim. Vai revirar os pertences que não são mais seus, abrir um abismo de pavor dentro de você. O vento derrubará as paredes, fará desabar o teto, levará embora teus sonhos. E tudo que restará na imensidão de um canto qualquer será o que ninguém quis de você mesmo. [19h50min]

16.11.10

Blessing all these scars inside.

[15h35min] Para esta língua que não falo, não são necessárias palavras, a própria linguagem transcende o Nada em seu vazio, em tudo que é dito sem acontecer. O verbo antes do silêncio. Uma revoltosa tempestade sobre tudo que não existe. Nos meus olhos dentro de seus olhos, eu mesmo, sozinho, esperando a Perdição. [15h37min]

12.11.10

To feel a deep hate, to feel scared.

O vapor do chá mate com limão na caneca desbotada
A canção semi-acústica de outros tempos repetidos
O vento frio e indefinido pela chuva da existência
O ranger das velhas tábuas de madeira no convés

Neste mar absolutamente inútil e sem rumo
Feito lagoa triste de tanto sal do que ninguém chorou
Na rosa-murcha-e-pálida-dos-ventos não há direção
Não há sentido, não tem partida, a chegada é sempre nada

Neste horizonte limitado das escolhas
A punição é estar sozinho e tão cheio de si
Banhado pelo gélido manto vespertino
Enregelado pelos próprios ossos ressequidos

O som do sim, a canção do não, tudo se mistura
Se confunde em pesadelos feito numa traição
E enquanto fantasmas entoam os seus cânticos
O anoitecer canta ave-marias às avessas

É o Inferno sem frio, é o Inferno sem dor
São os dias passados que não me deixam
A resposta para quem não tem perguntas
É a vida sem mim, é viver sem você.

2.11.10

No inútil disfarçar o Mal em Bem.

Nas noites mais longas, lentas e solenes é que surgem as revelações dos maiores vazios. Momentos de insônia, de crença na inexistência de fé. A garoa lá de fora parece que cai aqui dentro, em mim. E as palavras, vazias, as de sempre, escorrem como nunca pelas grades da eternidade monótona e subterrânea. Distração diabólica de tão perversa e inebriante.

18.10.10

Stay tonight in a lie.

[20h20min]

É tarde pra eu perceber que ainda é cedo
Pra viver à míngua e mesmo assim ainda rir
Mesmo sem nenhum desejo de existir
Na vontade de nunca mais sentir tal medo

Na língua morta que sabe tudo de mim
Na porta aberta a esmo no ensejo do fim
E se acontecer de a verdade um dia surgir
Prometo que tentarei não mais fugir.

[20h27min]

11.10.10

Tudo vejo a desaparecer!

Andando na cidade desmedida
Eu procurava a minha fé perdida
Ainda que não fosse encontrá-la

Sob a fria garoa e o cantochão
Eu era um qualquer na multidão
Feito barco batendo contra o cais

Naquela paisagem eu só via
Os arcos e as velhas ferrovias
Ainda que eu não estivesse lá

Num mar em preto e branco eu sonhava
Que num instante enfim você voltava
E não ia embora nunca mais.

Sailing into destiny closer to the heart.

Rush.
October Tide.
Enslaved.

DilmaSerraFolhaEstado.

S o u s â n d r a d e, Jorge de Lima.

CORINTHIANS

Vida, história, amor.

Com todas as dores possíveis dentro e fora de mim, revisto papéis, tomo um pouco de

(...)

Desisto de escrever.
Desisto?

Não quero mais relatos aqui, somente a transcendência. Cansei de permanência, túnica inconsútil do destino que sempre deixa as coisas sem saída.

---

Faz frio, uma gélida antigüidade, o frio de antes do início de tudo.

A lifetime of questions

[14h54min] Eu ia escrever, mas não vou. Ah, vou escrever, mas o quê? Já estou escrevendo, não apenas escrevinhando, ei, quem é você, ei quem sou eu, eu sou eu e sou você, você que não é ninguém, veja só, não sabe nem o que escrever, não tem nada a dizer, pensa demais, não só faço de menos, e quando faço, faço errado, então por que insiste em pensar em fazer, porque é só o que sei fazer, ser-existir-em-mim, um ser-nada, então continue assim, sem continuar nada. [14h55min]

3.10.10

Mas talvez o erro não se introduza no próprio ato reflexivo.

[ 22h32min ] Na noite após da noite | Na solidão após a solitária companhia | Na verdade solitária após as mentiras coletivas | Tenho febre, sento e escrevo. Descrevo-me | a ninguém. Vão-se as eleições, as musicalidades, as políicas interestelares, os relacionamentos, tudo segue seu curso. E eu descubro a falta de tempo. E não corro, não morro ainda. Apenas escrevo. Em reverência ao que me deu tudo que não tive. [ 22h34min ]

27.9.10

Arise from dreams, shape-shifting fiends, dance madly 'neath the moon.

Desnatureza. Será um instinto ao contrário? Ou o avesso da biosfera, o vazio absoluto. Seja como for é o que sinto, é o que sou. É aonde vou. Escrevo de lá, pode deixar. Aliás deixar, a vida é um eterno deixar e ser deixado pra trás. A gente só leva o que nos leva, seja aonde for, seja como for. Eu vou, não fico. Eu vou, quem sabe um dia eu volto.

Por perdido, assim, me achei.

Agora os cacos da fragmentação estão desarranjados num único lugar. Todos os meus eu jazem no mesmo espaço, esperando que você os remonte do jeito que quiser, ou que eles quiserem - afinal as palavras escravizam as pessoas. Quanto ao passado, sem desapego, foi apagado senão das memórias. O resto é história, é silêncio, é desimportância.