26.1.12

E era como se a água desejasse escapar de sua casa que é o rio e deslizando apenas nem tocar a margem.

Sempre a resposta errada
Da pergunta que ninguém fez
Uma placa ao largo da estrada
Que indica lugar nenhum
A longa espera pelo dia
Que não chegará jamais.

18.1.12

Cherish the certainly of now: it kills you a bit at a time.

Os paradoxos invadindo a alma
E a memória de uma vã procura
Que vai trazer a mais cruel loucura
A redenção da nossa própria calma

Reinvenção de uma excelsa morte
Glorificada no vazio da sorte
De quem já não conseguiria nada
Além de expor a convicção cansada

De uma régia e sutil presença
Tão decadente, assustadora e fria
Cambaleando em fugaz descrença
Na esperança que já não havia

Por uma glória já perdida e só
De um amor desencontrado em si
O puro escárnio de quem nunca ri
A renascença do horror sem dó.

13.1.12

O destino que tens, de querer o impossível, é igual a este meu, de querer ser feliz.

Mais um entardecer em que a sorte não vem
Fosse a esperança tão-só um remendo
Imagino que algo esteja acontecendo
E eu resolvo viver as venturas de outrem

Vasculho as histórias fossem todas minhas
Perco-me nas memórias de plebeu e rei
Que me revelam cada coisa que não sei
E me descrevem n’outras luminosas linhas

Relatos de viagens que jamais farei
E fotos de pessoas que não conheci
De tanto ouvir e ver, eu até me cansei
Da minha própria vida eu me esqueci

Volto à realidade da vida ordinária
Que me deixa com sono, cansado e só
Encosto-me na cama, apago a luminária
E meus sonhos se perdem, nas cinzas, no pó.

10.1.12

Renaissance is over and I wonder: should I close my eyes and pray? Feel like I've betrayed? Always be the same (once again)?

Houve um tempo em que as palavras vertiam do chão e desabavam de meus lábios e meus olhos e escapavam de minhas mãos caudalosamente sem cautela alguma apenas a expressão nada sutil do escândalo e eram todos os sonhos insones uma infinita e grosseira fome de conhecer de começar a reviver tudo que estava insepulto e vandalizado ó deus em quem não acredito como eram vivas as negras paisagens que eu derramava fossem flores de escárnio e tormento numa sagrada profanação da divindade suja que era eu mesmo no início sem final no bem que também era o mal e eu me tornava nunca deixara de ser o próprio deus culpado açoitado ressurreto a ascender ao mais excelso e régio círculo imperfeito do panteão das minhas visões sublimes infernais em comiseração a sursis de um deus que precisava ser temido e adorado só precisava ser aceito por todos por ninguém na celebração de tudo que era incerto quando não havia tanta paisagem útil a me distrair e meus olhos se voltavam somente a você à adoração cheia de desprezo desapego desespero a tudo que eu amava eu fingia eu temia por me faltar por eu não saber toda a lírica do ódio dedicada ao imenso vazio que era o interstício de existir momento de se calar de cantar todo aquele silêncio brutal que doía envolvia todos que um dia vieram ficaram pelo caminho que nem existia somente a ventura ressentida do agora só por hoje nunca houve atirado no chão corpo entregue ao mar absoluto que jamais vi ao qual pertenço desde que resolver não mais escrever existir desistir em reverência ao mais profundo e majestoso esquecimento.

9.1.12

Sem esclarecimento tudo será apenas crueldade.

Falta de excesso de assunto
Regresso de falta de tudo
De tempo que sobra e falta
– Excesso de pauta no mundo.

Porque depois de tanto tempo
Sem escrever coisa qualquer
Precisa ser definitivo
E infinito e imperativo
Sobre a existência ou uma mulher
Ou qualquer coisa que invento.

No entanto a idéia não vem
Só a velha insatisfação
Com todo escárnio e desdém
Que mata a inspiração.