13.2.19

Ter sido. E não poder esquecer. Ter sido. E não mais lembrar. Ser. E perder-se.


I

A vida anda ¿meio? perdida, apagada, rabiscada
Num papel arrancado de caderno
Velho
Amassado, amarelado
Deixado de lado
E a vida?, suja e deslavada
Estirada num varal
Qualquer
E as almas, camada por camada
Quarando, amarelando
Sem freio, esteio
           Sem meio
Só um fim que não tem fim
E ninguém sabe como tudo
/E nada/
Começou.

Na vala incomum
Remida, perdida, esquecida
Desperdiçada
Está lá, olha lá!, a vida
Desanimada, é verdade
De um culto ultrajado, ultrapassado
Qualquer pecado que seja homem ou mulher
– E que surja um novo cão?, expiatório
Crucificado*,
[*O mártir e a chaga do lado]
Para remir qualquer pecado
         permitir
        ¿demitir?
Sob o sol túrgido da tarde
– É sempre tarde
Que já se vai, se foi, se é que foi.

E as moscas, sempre as moscas
Revoando feito loucas, feito um halo
D e s a n g é l i c o
De inútil* e putrefata ¿sanidade?, santidade
[*Paisagem arruinada]
Sob um céu e um sol que já não há
E sob a égide de ______ que não fui, não sou, quem quer que seja
Em quanto tempo, mais dias do que há em mil anos
Desamparo, abandono
No corpo, nos vazios tristes
Nesse caminho úmido, nítido, rútilo para onde?
R.: Pra morte
[Viver, angústia turva]
Do divino espírito desgraçado
– Desencorajado.


II

Pois olha, veja bem
Não conta pra ninguém
Tem uma coisa
Que me suja
Que não sai
[‘Vezes até me atrai]
E eu não conto
Que eu mal tive
Que eu não confesso
Que mal expresso
Deus me livre, alguém saber
Do maldizer
Do malmequer
E com a voz calada
– Tempo livre, não sei –
me levanto
Quando [não] chove
Já me pego pensando
No tanto, nem sei quanto
A [não] fazer
E não sei o que faço
Com o espaço
Vazio.

Florestas de pedra
Cidades de pó
Lágrimas de sal
Vielas, cidadelas
Poeira e mágoa
Em manhãs garoentas
Diante [¿distante?] de tudo
Que se apresenta
E não me representa
Tenho a impressão de que
Sou
Coadjuvante, figurante
Na vida
Palavra que não vale
_Então se cale
_Espera o cão ladrar
Sob o sol enevoado
De discursos e disputas
[Seja do que for tua fome]
– E mortificação.


III

Sabe o anjo que não cai?
Desiste da espera
Enrola essa bandeira
Abraça o caos e vai
Do mar você não sai
Me dá tua mão e vem
Me diz como é que faz
Pra disfarçar, continuar, adormecer, respirar e caminhar
Deitar ao chão tudo
Que está nas mãos
No azul que não há dos meus olhos de cão.

Nenhum comentário: