2.2.18
E os teus olhos não buscam mais lugares.
É quando já não há mais tempo
Que todos vêm, ao telefone, me avisar:
Deixaste o corpo, a carne, a vida,
E os sombrios insucessos para trás.
Às tantas dificuldades, enfim,
Deste as costas; tanta aposta,
Tanta reza, que deu somente em nada,
Até que, então, resolveste descansar.
Aqui, correm os ponteiros do relógio,
Aí não bate mais a vida em teu peito;
Resta a mágoa do destino, atrás dos olhos,
E a terra, sobre os ossos, derramada.
Cessa o tempo, doloroso, para ti,
Fica a vida, incompleta, para nós;
Já não há mais girassóis para essa luz,
E todas as tuas flores são de adeus.
No lamaçal do enevoado amanhecer,
Os cães ladram e ladeiam pelas lajes,
Ao som do lúgubre e amargo cantochão
Para o madeiro descido ao abismo.
Ao redor, parentes, amigos, conhecidos;
Entristecidos, cada qual no seu canto,
Ora envoltos em pranto, ora apenas contritos,
Ao sabor do impermanente e finito.
Não quis te ver caído, inexistindo
No acre fado sob o sol e o céu;
Guardo lembrança de quando caminhavas
Pela vida que agora te encerra.
Olhos cerrados, no descanso infindável,
E, sob a lápide gelada, o teu nome;
Jazes na relva - escuridão, placidez,
Na distância do silêncio e do nunca.
É tudo que tens agora – a eternidade;
Ficamos aqui com a memória
Envolta em tempo, em poeira, no vazio,
E tu aí, imóvel onde o tempo já não há.
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