29.7.13
Nem propriamente mágoa, mas qualquer coisa assim com o sabor sarcástico de uma advertência.
"O céu, um círculo fez
E eu, o que fiz?
– O mesmo outra vez.
O sol nasceu e morreu
E eu, ainda não;
– Um dia, talvez."
(Pato Fu, Ninguém)
Diz: quanta falta de sentido
Existe numa direção?
Se o coração, cinza e partido,
Sabe que nunca tornarão
Os dias cálidos de outrora
Sem o cinismo de agora?
E o que reserva o Destino
(Esse discreto assassino)
A quem já sabe seu caminho?
Se a esperança, em desalinho,
Tem sua morte decretada
Em qualquer curva da estrada?
Mudar a trilha? Impossível,
Toda escolha já está feita
Desde o início, desde sempre,
Está escrita desde o ventre,
E saber disso ou ter suspeita
É u’a vantagem desprezível.
Resta fingir surpresa quando
Nos virmos pálidos diante
Dessa final desolação,
Mas sem valor em tal desmando;
Pois você sabe: o diamante
No fim não passa de carvão.
Não há lição para aprender,
Não há sentido em sofrer
E ninguém cresce com a dor.
É só pretexto pra existir
Sem nem pensar mais no pior
E deixar tudo esvair.
Vão-se as noites e os dias,
E veja: nada vai mudar.
Resta então se acostumar
Ao mesmo ponto de partida
E superar a apatia
Que é viver sempre a vida.
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