Vi-me tragado, assim meio de repente, para o vórtice de alguma coisa da qual não sabia direito o nome, mas que havia se tornado – e isso eu vi bem antes de chegar ao fundo, ainda quando lutava para que meu existir não me escapasse pelos desvãos entre os ossos, soterrado, sufocado e afogado por aquela voragem torrencial de perdição soturnamente vazia – o que eu já havia sido, com suas faces sombrias de amargura e grotesquidão, e que no fundo sempre estivera à minha espreita, no meu encalço, seguindo cada descompasso meu – e ali nos reencontramos, sem que, na verdade, jamais tivéssemos deixado de fazer parte um do outro, porém, quando cheguei ao fundo, que na verdade era a mesma paragem que o início, numa queda que não era nem para cima, nem para baixo; estava então entre os edifícios tumulares de tão frios, entre árvores ressequidas de cidades vazias com pessoas cheias de si, que sequer sabiam se iam ou vinham nas gigantescas pontes de rude concreto armado, e então me pus a caminhar de forma trôpega, ainda que decididamente, até algum templo de deuses sem Deus, rodeado por muralhas de pavor, em meio a florestas petrificadas de loucura, tudo em meio a um paço ao mesmo tempo solitário e ruidoso, de sombras odiosas sob um céu abrasivo de azul profundamente trespassado pelo ar seco e desagradavelmente terroso.
Naquela dor cheia de angústia, de não querer adormecer, de não querer mais acordar, só para não sucumbir aos terrores, estertores, e despertar sendo o mesmo de novo, dentro e fora do mesmo ovo dos mesmos deuses de ontem, esperando o que nem sabia, quem eu nem era – e, então, naquele momento impessoal e inútil, eu ri e ri e ri, de mim, de tudo, do Nada que que eu era, fui, seria; ria da morte, do medo, do fim, da sorte de estar sendo ter sido não ser nunca mais, ria um riso horrível de torpor e dormência de quem já havia tomado tanto remédio e tanto veneno, ouvido e seguido tanto conselho, e ignorado tanta outra coisa, de quem rezou para tantos deuses e contra os mesmos blasfemou, de quem amou e odiou tanta gente e tanta coisa, e nunca se sentiu melhor, e nunca se sentiu pior –, porém, vagando sob aquele sol que ardia no fim de tarde quente, enquanto tantas estrelas frias queimavam em meu peito, ansiado e contrafeito, diante de vivos e mortos, solidão e loucura, dinheiro e mãos sujas no Eterno Retorno aos planos desimportantes, e aos sonhos dos quais ninguém sabe, soube uma vez mais que, quando até o espírito te abandona, é o corpo que permanece lá, sem esperança, sem droga nenhuma, sozinho porque é preciso estar sozinho, para recomeçar novamente diante do velho mundo, para o novo dia amanhecer e quase tudo ficar bem.
Naquela dor cheia de angústia, de não querer adormecer, de não querer mais acordar, só para não sucumbir aos terrores, estertores, e despertar sendo o mesmo de novo, dentro e fora do mesmo ovo dos mesmos deuses de ontem, esperando o que nem sabia, quem eu nem era – e, então, naquele momento impessoal e inútil, eu ri e ri e ri, de mim, de tudo, do Nada que que eu era, fui, seria; ria da morte, do medo, do fim, da sorte de estar sendo ter sido não ser nunca mais, ria um riso horrível de torpor e dormência de quem já havia tomado tanto remédio e tanto veneno, ouvido e seguido tanto conselho, e ignorado tanta outra coisa, de quem rezou para tantos deuses e contra os mesmos blasfemou, de quem amou e odiou tanta gente e tanta coisa, e nunca se sentiu melhor, e nunca se sentiu pior –, porém, vagando sob aquele sol que ardia no fim de tarde quente, enquanto tantas estrelas frias queimavam em meu peito, ansiado e contrafeito, diante de vivos e mortos, solidão e loucura, dinheiro e mãos sujas no Eterno Retorno aos planos desimportantes, e aos sonhos dos quais ninguém sabe, soube uma vez mais que, quando até o espírito te abandona, é o corpo que permanece lá, sem esperança, sem droga nenhuma, sozinho porque é preciso estar sozinho, para recomeçar novamente diante do velho mundo, para o novo dia amanhecer e quase tudo ficar bem.