Veja só o céu de noite:
É como olhar para dentro,
Na dor feito a de um açoite,
Para o gélido momento
Em que, ínfimos, sentimos,
Que tudo é gratuito e vão
Nos domínios intestinos
Da absoluta escuridão.
Almas atrás de respostas
(Estrelas opacas, mortas);
Toda a gente insegura,
Mergulhada na amargura
Dessa angústia que sempre
Vai revirando no ventre
E finda sem resolver
O que é ser e não ser.
A vida é um espaço,
Desolação de regaço,
Perdido em tal distância
(Sempre incompreendida)
De elegante irrelevância
Que a hora da partida
Já se anuncia ao chegar
Ao negrume desse mar.
Na desordem do Universo
Até os astros se afastam
Uns dos outros, solitários,
Vendo o Tempo ir e vir,
Com o rumo tão perverso
Dos fados que resultam
(Ignorando calendários),
Da condição de existir.
Jamais finda o tormento:
Nunca deixa ir embora
Tanto a nós quanto aos astros;
Não importando a distância
Do escapar dessa ânsia,
Permanecerão os rastros
Universo inteiro afora,
Coração inteiro adentro.