"Porque no hay una poesía festiva, alguien había dicho, pues quizá sólo del tiempo y de lo irreparable puede hablar.”
(Ernesto Sabato, Abaddón El Exterminador)
Diz-me: qual é a tua angústia?
Que mal te aflige esse tanto,
Essa tristeza que até dói,
Das mesmas cartas sobre a mesa,
Não importando se os dias
Têm sido como tu querias,
Ou se qualquer expectativa
No fim de tudo desatina
Numa esperança morta-viva,
Nos braços lassos da rotina?
Pois finda o dia e o mês,
E a semana, e outra vez
Vem o cansaço da estreiteza
A cada sonho que ela mói,
E nada enxuga esse pranto.
É tanta dor, um compromisso
Com os desvãos da sorte má,
Em achar tudo tão cinzento,
Pois dá no mesmo, na verdade,
Te entregares à vaidade
De aproveitar as tardes baças
Pisoteando as folhas secas,
Ou lamentares nas charnecas
Como se fossem meras praças;
Seja no excesso ou na falta,
A existência, vã e infausta,
A cada pálido momento,
E infelizmente já não há
Tempo que leve embora isso.
– Diz-me: qual é a tua angústia?