9.11.12
Já uma dor vaga flutuava no fundo dos seus olhos: a dor seca das insônias.
Às vezes tens vontade de escrever?
Uma novela, um conto, alguns versos,
Ou um ensaio sobre qualquer tema,
Como se pensamentos tão dispersos
Tornassem interessante o teu problema,
E alguém se interessasse em te ler?
As ideias parecem bem melhores
Na mente do que postas no papel,
Quando elas parecem enferrujar
No contato com cada velho olhar,
Que faz o julgamento tão cruel.
– E lá se vai a arte aos estertores.
Saiba que os escárnios chegam lentos,
E externar sentimentos será sempre
Garantia de alguma frustração;
Melhor já abortar logo no ventre
O esboço de poema ou de canção,
Para se proteger dos julgamentos.
Percebe as palavras de desdém:
Um elogio será sempre mentira
E o silêncio, uma zombaria.
Eis o melhor conselho que eu daria:
Evita que essa dor ‘inda te fira,
Jamais escreve versos a ninguém.
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